quarta-feira, 17 de junho de 2009

Céu, inferno, eternidade e Platão

Tenho tido problemas com a maneira tradicional com que as pessoas vêem os conceitos teológicos. Em minha jornada pela teologia tenho percebido o quanto a teologia têm errado ao longo dos séculos ao importar conceitos gregos como próprios da teologia bíblica.

Santo Agostinho, por exemplo, foi um daqueles que, nos primeiros séculos do Cristianismo, passou a utilizar conceitos filosóficos da sociedade grega para interpretar/desenvolver a teologia. Um dos influenciadores de Agostinho foi Platão.

Para Platão, existe uma dicotomia entre a alma e o corpo, sendo o corpo, mau, e o espírito, bom. Nesse cenário, a nossa vida terrena e nosso corpo mortal não passa de um empencilho, um obstáculo que deve ser superado em uma vida superior, acorporal e depois da morte.
Boa parte das interpretações medievais do Céu e do Inferno foram influenciados por essa dicotomia corpo/alma. Infelizmente.

Para o cristianismo, porém, o corpo não é um empencilho. Concordo com C. S. Lewis quando ele diz que o Cristianismo é a única religião que valoriza o corpo ao invés de desprezá-lo. Ed René Kivitz entra por esse mesmo caminho em seu livro "Vivendo com Propósitos".

De onde temos a idéia de um Céu formado por "gasparzinhos" em alguma espécie de vida estática e monótona? De onde tivemos a idéia de um inferno dantesco, como uma eterna Auschitws na qual pessoas sofrerão eternamente nas mãos de um Deus irado?

Desculpe-me, antes de continuar já aviso que posso estar errado em meus pensamentos.

Minha opinião permanece, porém, de que isso tudo é um reflexo de uma visão completamente medievalizada a respeito da eternidade, do Céu e do Inferno. Não seria justamente essa visão (que merecidamente remonta às "Idade das Trevas") que fez com que muitos pensadores brilhantes desdenhassem do cristianismo ao longo dos séculos? Será que muitos adolescentes não poderiam deixar de crer no cristianismo, na história de amor e resgate de Deus pela humanidade, devido à irracionalidade de algumas descrições do Céu e do Inferno que foram influenciados, inclusive, por mitos pagãos a respeito de um lugar de fogo após a morte?

Não digo, com isso, que não creio em Céu e Inferno. Esses dois lugares estão realmente respaldados pela Bíblia a respeito de sua existência. Mais uma vez, o que contesto é a visão influenciada por pensadores gregos, Platão (corpo vs. alma), era medieval e mitos pagãos que hoje em dia se conhece a respeito desses lugares.

Alguns pontos:
- O céu está muito mais para uma Terra restaurada do que um lugar além desse mundo. Não será necessário sair do tempo-espaço para estarmos na Cidade Eterna de Deus. Pelo contrário, no final da narrativa apocalíptica, é o Céu que vem para a Terra, e não o contrário.
- Não existem "gasparzinhos". O que é valorizado no Cristianismo não é uma "libertação do corpo" platônica, e sim uma RESSUREIÇÃO desse corpo. O corpo e valorizado.
- O inferno na Bíblia em português é a tradução de quatro palavras diferentes nos originais.

Sei que esse post deveria ser muito mais completo e complexo. Não me vou me estender, porém. Provavelmente continuarei minhas contestações à influência grega sobre o cristianismo; deveríamos entender o pensamento hebraico a respeito do mundo, faz muito mais sentido.
Termino apenas citando uma frase "quando os filósofos [gregos] falam, os profetas [da Bíblia] se calam".

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